Francisco
Ferraz
A
política, por sua inescapável natureza competitiva, e mais ainda pela
publicidade que assume, é um campo de atividades onde proliferam adversários e
inimigos. Só não tem adversário ou cria inimigos quem é politicamente
inofensivo. Os que têm ambição e lutam por seus objetivos por certo terão
adversários e talvez, ao longo da carreira, adquiram inimigos.
Não é
preciso gastar tempo para analisar os adversários: são participantes do jogo da
política, competidores por vezes duros e até desleais, mas o que desejam é
vencer a eleição e ocupar o cargo. Não os move o ódio pessoal, nem o desejo de
destruição, que são sentimentos exclusivos dos inimigos. Já sobre estes sempre
há muito o que falar e ainda mais para aprender. Inimigos podem surgir na vida
pessoal e ser transportados para a política - ou podem surgir nesta própria
área. Não importa a origem: o inimigo alimenta sempre um sentimento negativo
para com você.
Se a
origem da animosidade é indiferente, sua razão importa - e muito. Há inimizades
cuja natureza é pessoal.
Outras
nas quais o porquê é estritamente político. Quando o motivo for pessoal, ele é
irremovível. Inimigos costumam ser mais fiéis que os amigos - e quando a razão
da antipatia é privada, ela é nutrida em silêncio, cultivada com o adubo do
ódio, cresce e cristaliza-se com o tempo. Ao migrar para o mundo da política,
entretanto, a inimizade cobre-se de motivos nobres e elevados para se
justificar diante da opinião pública. Deste modo, assume convenientemente a
forma de um conflito de interesses e ideias. É preciso, portanto, saber
distinguir com clareza a hostilidade política da inimizade
pessoal travestida de argumentos ideológicos. O pior que pode lhe
acontecer é tratar um inimigo como se fosse um adversário, por um erro de
julgamento.
A você
não interessa desmascarar o inimigo, mostrando ao eleitorado que a razão da
hostilidade não é política, mas pessoal. Porque ou você convence o eleitor, ou
não. E, nas duas hipóteses, o resultado lhe é desastroso. Se o fizer crer que a
razão é pessoal, as consequências atingem você e seu antagonista. Afinal, como
provar que seus motivos não são igualmente pessoais? Ao eleitor ficará a
sensação de estar sendo envolvido num conflito que não lhe interessa, lhe é
irrelevante e ainda depõe contra os políticos que usam eleições para resolver
diferenças pessoais.