Uma energia transbordante, uma
fogosidade jovial e temerária no uso da força a serviço da revolução, uma
eloqüência arrebatadora, uma “joie de vivre” insaciável, expressa no amor, no
comer, no divertir-se, e numa “nonchalance” em relação à vida, uma confiança
exagerada em seu poder, uma fé profunda na justiça, no povo, na nação, e na
revolução.
Todos estes atributos reunidos num
rosto de cão de fila, desfigurado desde a infância por uma chifrada de touro,
com cabelos negros volumosos e descompostos, como se fosse uma juba, num corpo
de dimensões hercúleas, uma voz poderosa, ele conseguia, com o busto entesado,
a enorme cabeça atirada para trás, eletrizar uma multidão, ou domar um inimigo.
Eis Georges-Jacques Danton. Ele foi o
clarim que soou o toque de ataque contra todos os inimigos da pátria e da
revolução.
Ele encarnou a revolução naquilo em que
ela possuía de mais carnal e entusiástica. Este tribuno tinha fortes traços
dionisíacos. Ele é vida, ele é poder. Esta energia torrencial extravasava
qualquer tentativa de discipliná-la, mais ainda em meio ao torvelinho
revolucionário, em relação ao qual ele era, ao mesmo tempo, sujeito e objeto,
algoz e vítima.
Por Francisco Ferraz